GSI planejava intimidar delegados da PF, diz relatório
GSI planejava intimidar delegados da PF, diz relatório
A ideia era transformar o cumprimento de ordens judiciais consideradas “ilegais” em crime de responsabilidade, ampliando o controle sobre as investigações contra aliados do governo Bolsonaro.
O relatório da Polícia Federal (PF) sobre o inquérito da suposta tentativa de golpe de Estado em 2022 revelou anotações alarmantes do general Augusto Heleno, então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Em sua agenda, apreendida pela investigação, há uma nota indicando a intenção de intimidar delegados da PF, incluindo a sugestão de prisão em flagrante. A anotação específica diz: “Prisão em flagrante do delegado que se dispuser a cumprir”.
De acordo com a PF, o plano envolvia a criação de um “aval jurídico” com respaldo da Advocacia-Geral da União (AGU) e aprovação do então presidente Jair Bolsonaro (PL). A ideia era transformar o cumprimento de ordens judiciais consideradas “ilegais” em crime de responsabilidade, ampliando o controle sobre as investigações contra aliados do governo.
O plano incluía ainda o Ministério da Justiça (MJ), que deveria comunicar a decisão ao diretor-geral da PF. Um dos desdobramentos indicados por Heleno seria a atuação das Forças Armadas (FA), com as quais as autoridades envolvidas deveriam dialogar para reforçar a pressão sobre a PF.
Além das anotações de Heleno, o relatório aponta para uma estratégia complementar identificada em documentos apreendidos com Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Ramagem teria sugerido a Bolsonaro uma proposta para retirar a autonomia dos delegados da PF, transferindo a responsabilidade por inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) para o diretor-geral da corporação.
Tanto Heleno quanto Ramagem negam envolvimento no caso, mas estão entre os 37 indiciados no inquérito sobre o golpe. Segundo a PF, os elementos coletados reforçam a tese de que havia uma articulação organizada para minar as investigações e proteger integrantes do governo.